Psicologa Clínica, Desenvolvimento e Educação
Podemos apresentar a atenção como uma qualidade da percepção. A atenção cumpre a função de filtrar os estímulos presentes no ambiente, mensurando quais os mais importantes para o indivíduo, gerando a sua conexão com o ambiente.
A atenção está ligada ao cérebro executivo ou (parte intelectual), nosso cérebro
emocional (parte de nossas emoções) e nosso cérebro social (nossa integração com o
outro e com o mundo), abarcando em seu funcionamento tanto as partes corticais
quanto as sub-corticais.
Quando alguma coisa nos chama a atenção através dos órgãos dos sentidos
ou da percepção interna, determinadas áreas do cérebro ficam especialmente ativas:
região parietal direita; região pré-frontal e giro do cíngulo.
1º) Algo acontece: neste momento a REGIÃO PARIETAL aciona os mecanismos de
percepção.
2º) Logo depois, é a vez da REGIÃO PRÉ-FRONTAL direcionar o olhar para um alvo. É nesta região que se dá a capacidade de manter o foco no alvo e ignorar o resto.
FOCO = O circuito especializado desta área aumenta a força dos sinais percebidos vindos do que queremos (ou devemos) nos concentrar (alvo) e diminui a força do que escolhemos ignorar.
3º) E após ter estabelecido o foco, os circuitos da área do Giro do Cíngulo, avaliam: vale a pena ou não manter o foco. Vale a pena colocar foco naquele alvo?
Enquanto o foco seletivo estiver presente, segundo estudos, o circuito principal do córtex
pré frontal fica sincronizado com o objeto daquele feixe de consciência: captura de fase.
Quanto melhor for o seu foco, mais forte é a sua captura neural. Mas se, em vez de
concentração, houver um emaranhado de pensamentos a sincronia desaparece.
Aprendemos melhor com a atenção focada, que nos leva a uma atenção profunda.
Quando nos focamos no que estamos aprendendo, o cérebro conecta aquela
informação com as que já sabemos, fazendo novas conexões neurais.
Se você e um bebê dividem a atenção em relação a algo cujo nome você pronuncia, o bebê aprende esse nome. Se o foco dele divaga quando você diz o nome, ele não aprende.
Quando nossa mente divaga (estar à deriva, permitir que o pensamento flutue ao sabor do vento), nos afastando de nosso foco, o cérebro ativa um conjunto de circuitos neurais que informam sobre coisas que não têm nada a ver com o que estamos tentando aprender. Sem foco, não apreendemos; assim como não aprendemos, menos compreendemos.
A melhor hora para divagações é a hora que não precisamos focar em nada e podemos e devemos deixar a mente divagar. Contudo, que dure pouco, pois quando divagamos estamos perdendo o nosso momento presente, não estamos percebendo o momento presente.
Se a atenção é pouco desviada, conseguimos voltar para o foco rapidamente, ou seja,
voltar para o que estávamos fazendo, mas se começamos a dar atenção a uma coisa,
pulamos para outra coisa e damos mais um pulo, perdemos o foco, e passamos a ter
dificuldade de concentração.
Há dois tipos principais de distrações: sensorial e emocional. Os distratores sensoriais são simples: enquanto lê estas palavras, você está abstraindo as margens em branco ao redor deste texto. Os distratores sensoriais conseguem mais facilmente serem eliminados pelo cérebro devido ao contínuo fluxo de sons, formas e cores de fundo, sabores, cheiros, sensações e assim por diante e você consegue permanecer no foco.
Os piores distratores são os carregados de sinais emocionais. O maior desafio até mesmo para os mais focados portanto, vem do tumulto emocional das nossas vidas.
Quanto mais o nosso foco é interrompido, pior nos saímos.
Para mantermos o foco é necessário que abstraiamos as distrações emocionais, nossa estrutura neural para a atenção seletiva inclui a inibição da emoção. Isso significa que quem tem melhor foco é relativamente imune a turbulências emocionais, tem mais capacidade de se manter calmo durante crises e de se manter equilibrado apesar das agitações emocionais da vida.
É o que chamamos de controle!
Controle suas emoções, controle seus impulsos e você conseguirá manter o seu foco.
Lembrando que você tem uma função executiva que tem o papel de inibir ou controlar seus impulsos e emoções.
As distrações que o mundo atual nos proporciona estão carregadas de emoções!
As distrações atuais são provenientes, principalmente, do uso das tecnologias digitais.
Nós carregamos o mundo nas mãos, e as distrações, também!!
Você está com o alvo na sua frente buscando focá-lo, e neste momento o som disparado pelo seu facebook te avisa que acabaram de comentar a sua postagem.
Acabou o foco, seu prazer emergiu (a emoção em questão)! Ou a necessidade de não perder nada: tenho medo de perder, de ficar por fora (o medo emergindo e o cortisol
tomando conta - estresse, o grau de urgência, a ansiedade começa a se manifestar) e aí me faz ficar conectado 24 horas. Isso sem falar no “vício”, lembrando que prazer é viciante, nosso cérebro recebe uma enxurrada de dopamina que é o hormônio do prazer.
Todos esses recursos tecnológicos nos invadem degradando a nossa habilidade de concentração. Nôs paramos o que estamos fazendo, vomos responder uma mensagem do whatsapp, seguimos para o e-mail, entramos no facebook e nosso foco no alvo acabou: ficamos distraído hora com uma coisa, hora com outra. Estamos colocando a nossa atenção em um monte de coisas, são as multitarefas, só que a nossa atenção não se divide! É o que a ciência cognitiva nos mostra.
Em vez de ter um balão de atenção elástico para usar em conjunto, temos um canal fixo e estreito para repartir. Em vez de dividi-la, nós, na realidade, trocamos rapidamente nosso foco de atenção. Essa troca enfraquece a atenção no envolvimento completo, ou seja, não sustentamos e não aprofundamos nossa atenção, não alcançando a concentração. A cada troca de alvo mudamos nosso foco, nosso cérebro precisará se reorientar, exercendo mais pressão em nossos recursos mentais.
Quando perdemos o foco não concentramos, não construímos novas conexões neurais, não criamos nada, não guardamos nada, não aprendemos conteúdo suficiente, não pensamos, mal repetimos informações. Ficamos menos capazes de pensar e raciocinar sobre um problema. Ficamos muito mais propensos a buscar soluções convencionais em vez de desafiá-las.
O estilo de atenção MONKEY MIND (termo do budismo): uma mente que pula de uma coisa para outra, que vai e volta, que faz com que interrompamos uns aos outros, acaba por construir uma forma humana de funcionar onde eu não prestamos atenção em nada.
Daniel Goleman (estudioso da inteligência emocional) em seu livro FOCO, aponta que estamos perdendo o foco em nós mesmos, nos outros e no mundo. Assim, a qualidade da comunicação, da relação, da integração, aprendizado não superficial... vai ficando para trás. Uma nova sociedade se formando. Melhor ou pior?
Nesta nova sociedade emergente a procura por drogas psicoestimulantes, os Nootrópicos (do grego νους nous – mente e τρέπειν trepein - dobrar), termo usado para descrever uma classe de compostos que supostamente aumentam o desempenho cognitivo no ser humano, está sendo muito grande, principalmente no Vale do Silício. São substâncias sintéticas ou naturais - que melhoram os vários aspectos da cognição (tais como
memória, aprendizado, concentração), e não apresentam toxicidade ou potencial para adicção, contudo não existem estudos do seu uso por longo prazo e a comunidade científica apresenta um ceticismo com relação a esses psicoestimulantes.