Psicologa Clínica, Desenvolvimento e Educação
Batya Swift Yasgur, MA, LSW
14 de Julho de 2017
Uma equipe de pesquisadores liderada por Adrian Ward, PhD - professor assistente na McCombs School of Business, Universidade do Texas, Austin - conduziu dois estudos nos quais aproximadamente 800 estudantes de graduação participaram de tarefas cognitivas com seus smartphones posicionados de diferentes formas: próximos e à vista, próximos e fora de vista, ou em uma sala separada.
Os pesquisadores concluíram que a simples presença de um smartphone afetou negativamente a capacidade cognitiva disponível, ainda que os participantes conseguissem sustentar atenção, não estivessem utilizando os telefones, e relatassem não pensar nos telefones durante a execução das tarefas. Estes efeitos cognitivos foram maiores nos participantes que apresentam um nível maior dependência dos smartphones.
“Não era o caso de os participantes estarem distraídos por receber notificações nos telefones”, apontou Dr. Ward em comunicado à imprensa. “A simples presença do smartphone foi suficiente para reduzir a capacidade cognitiva”.
O estudo foi publicado na rede no dia 3 de Abril, no Journal of the Association for Consumer Research.
“A proliferação de smartphones deu início a uma era de conectividade sem precedentes”, escrevem os autores. "À medida que os indivíduos se voltam cada vez mais para as telas de smartphone a fim de gerenciar e trazer melhorias às suas vidas diárias, devemos questionar como a dependência desses dispositivos afeta a capacidade de pensar e funcionar no mundo fora da tela”, completam.
Eles também apontam que pesquisas anteriores se concentraram em estudar como as interações dos consumidores com seus smartphones podem facilitar e também dificultar o desempenho fora da tela. A pesquisa atual diverge daquelas, pois foca em “uma situação anteriormente inexplorada (porém comum) ” – a de smartphones presentes, mas não sendo utilizados.
Para apurar a questão, os pesquisadores conduziram dois experimentos correlacionados.
Na experiência 1 testaram o teorema de que a presença de um smartphone próprio reduz a capacidade cognitiva disponível refletida no desempenho em testes de capacidade de memória de trabalho (WMC) e inteligência fluida, ” ambos são desenhados para avaliar domínio geral “limitado pela disponibilidade de recursos de atenção, e a disponibilidade momentânea para esses recursos”.
Participantes (n = 520; idade média, 21.1 anos; desvio padrão, 2.4) foram selecionados aleatoriamente para um dos 3 grupos, distinguidos pela posição do telefone.
O grupo denominado “outra sala” deixou todos os seus pertences, inclusive telefones, no vestíbulo anterior à sala de testes. Participantes do grupo “escrivaninha” deixou a maioria dos seus pertences no vestíbulo, e levou os telefones para a sala de testes, onde eles foram instruídos a apoiá-los na mesa com a tela virada para baixo.
Participantes do grupo “bolso/bolsa” levaram todos os seus pertences para a sala de testes e manteve os telefones nos bolsos ou bolsas.
Os participantes completaram duas tarefas com o intuito de medir a capacidade cognitiva disponível: Teste de Memória de Trabalho para Operações Matemáticas (OSpan), e um subconjunto do teste de Matrizes Progressivas de Raven (RSPM).
Os participantes também fizeram um teste de cálculo matemático e responderam um questionário sobre suas experiências no laboratório e sobre conexões entre smartphones e suas performances.
Comparações entre os grupos revelaram que os participantes “outra sala” tiveram melhor performance em relação ao grupo “escrivaninha” (P = .002). Participantes do grupo “bolso/bolsa” não tiveram performance significativamente melhor em relação aos do grupo “escrivaninha” (P = 0.09) ou do grupo “outra sala” (P = 0.11).
Uma análise de contrastes revelou uma tendência linear entre os grupos: “escrivaninha” -> “bolso/bolsa” -> “outra sala”, e não uma tendência de quadrangular, “implicando que à medida que a proeminência do smartphone aumenta, a capacidade cognitiva disponível é reduzida, ” apontam os autores.
Os pesquisadores fizeram uma Análise de Variância ANOVA das respostas dos participantes para a pergunta “Enquanto realizava as tarefas de hoje, com que frequência pensava sobre seu telefone celular?". Eles não encontraram impacto da posição do objeto nos pensamentos relacionados ao telefone (P = 0.43). Na realidade, a tendência de resposta à pergunta em cada um dos grupos era “nenhuma frequência”.
No experimento 2 os pesquisadores investigaram os efeitos da predominância do celular no teste WMC e em uma medida comportamental de atenção sustentada e 275 alunos de graduação (idade média, 21.3 anos, desvio padrão 2.6).
Os pesquisadores replicaram o experimento 2, com algumas exceções. Utilizaram as mesmas posições para os telefones, e incluíram a variante do telefone ligado/desligado. Participantes do grupo “escrivaninha” foram instruídos a manter as telas dos telefones viradas para cima. Participantes de todos os grupos foram instruídos a deixar os telefones ligados ou desligados.
Os participantes realizaram os testes OSpan e Cue-Dependent Go/No-Go, que serve como uma medida de atenção sustentada. Os participantes então relataram a dificuldade subjetiva de cada uma das tarefas.
Os participantes também responderam perguntas exploratórias, a respeito de suas individualidades em relação ao uso e à conexão que apresentam com seus smartphones.
Assim como no experimento 1, comparações revelaram que os participantes “outra sala” tiveram performance muito melhor no teste OSpan do que os participantes do grupo “escrivaninha”. Participantes do grupo “bolso/bolsa” não tiveram performance significativamente diferentes dos outros grupos. As análises de contraste se mostraram similares.
“O efeito nulo entre as interações de celular ligado/desligado versus posição sugere que a queda de performance não seja relacionada às notificações recebidas (ou à possibilidade de receber notificações), descartando esta explicação para as causas dos efeitos percebidos no experimento 1", comentam os autores.
Os pesquisadores apuraram que as diferenças em relação à dependência dos smartphones abrandaram a redução cognitiva. Participantes que eram mais dependentes de seus smartphones tiveram pior performance, porém apenas quando mantinham os aparelhos nos bolsos, bolsas ou escrivaninhas.
“Ironicamente, quanto mais os consumidores dependem dos smartphones, mais eles parecem sofrer com sua presença – ou, de forma mais otimista, mais eles podem se beneficiar da ausência do aparelho", os pesquisadores notam.
"Nós percebemos uma tendência linear que sugere que quanto mais o smartphone está sendo percebido, há mais redução da capacidade cognitiva”, diz Dr. Ward.
"Sua mente consciente não está pensando no seu smartphone, mas esse processo – de se exigir não pensar em algo – usa parte de seus limitados recursos cognitivos. É uma evasão do cérebro."
Conclusões “assustadoras”
Comentando no estudo para Medscape Medical News, Larry Rosen, PhD, professor emérito de psicologia, California State University em Dominguez Hills, identificou o estudo como "muito bem feito e bem executado, mas também um pouco assustador”.
"Nosso grupo monitorou estudantes estudando. Quando o fazem, mantém os telefones por perto. E a norma – mesmo se o trabalho for extremamente importante e se souberem que estamos os observando – é de estudarem apenas por 10 dos 15 minutos disponíveis, que é sua capacidade máxima de atenção, até se sentirem obrigados a olhar seus telefones”, informa.
"As pessoas olham para os telefones mesmo se o telefone não vibrou e se não há notificações, o que é um produto de nossa imersão neste mundo de smartphones, ” diz Dr. Rose, autor de The Distracted Mind (MIT Press, 2016).
"Nós sabemos que este comportamento aumenta a ansiedade e reduz a capacidade cerebral ao criar dificuldades de processar informações, ” ele diz, “o que faz sentido se a informação que você deveria estar recebendo é atrapalhada por uma distração do aparelho. Como podemos nos lembrar, ou processar qualquer informação de forma profunda, se processamos por apenas alguns minutos? ”
Ele aponta que o estudo tem implicações importantes para clínicos. “Você deve estar consciente de que qualquer mensagem que você está dando para seus clientes pode não estar sendo absorvida claramente se você não deixa ele usar seu telefone enquanto está em sessão, pois o cérebro está apenas parcialmente presente. Você pode estar solicitando a eles uma reflexão, enquanto o que eles realmente estão refletindo é ‘eu não checo meu Snapchat há algum tempo. ’”
Além disso, "clínicos devem considerar o próprio comportamento e não dar atenção ao celular no meio da sessão. Se necessário, você e o paciente podem definir uma pausa na sessão para ambos checarem o celular”.
Os pesquisadores sugerem diversas táticas para mitigar a “evasão cerebral”, ainda que, à luz de suas descobertas, colocar o telefone de cabeça para baixo ou desligado seja provavelmente inútil. Ao invés disso, “nossas informações sugerem ao menos uma solução: a separação” — particularmente "períodos definidos de separação. ”
Os pesquisadores concluem que seu estudo “contribui para a crescente discussão, entre consumidores e o mercado, sobre as influências da tecnologia nos consumidores – em um mundo cada vez mais conectado. ”
Tradução Marina Monassa